segunda-feira, 5 de maio de 2008

O império não é de graça


Como potência mundial a China deve se adaptar as pressões da opinião pública internacional. Para um líder o diálogo e a imagem são valiosos

A China como potência parece que ainda não entendeu quais as suas novas atribuições. Exercer um papel de liderança internacional não são só flores, além do poderio econômico e político um líder deve enfrentar o peso da sua própria importância.

As relações entre China e países africanos, destacadamente o Sudão, serão motivos de protestos. Pela situação privilegiada que a China tem junto ao governo sudanês, pois é um dos maiores compradores de petróleo do país, está sendo pressionada para que intervenha na situação catastrófica da região de Darfur. Apesar das pressões o país se esquiva de pressionar Cartoun para que a limpeza étnica pare. Será mais difícil a China ter um papel respeitável na ordem mundial se continuar agindo assim.

Como líder o país deve manter uma imagem coerente com o seu novo lugar na política internacional. Suas ações são seguidas, noticiadas e vigiadas cada vez mais de perto por uma crescente opinião pública. A cobertura do país pela mídia ganha mais destaque e importância e as conseqüências da sua política começam a ser melhor entendidas pelo cidadão comum.

O dragão, a dor e a delícia de ser o que é
As olimpíadas de Pequim dão visibilidade à potência chinesa, sua grandeza e capacidade. Um dos efeitos colaterais é que o país deve aprender a lidar com a noção de democracia, respeito aos direitos humanos e permitir à imprensa mundial acesso livre (na medida do conveniente) aos atletas, à população e a regiões. Hoje, para ser uma potência não basta massacrar estudantes, calar jornalistas e omitir informação.

Protestos como os vistos na Inglaterra, França e Índia na passagem da chama olímpica vão ser mais freqüentes, porém, a política em relação ao Tibet vai continuar. A independência da região não vai acontecer e os grupos a favor da separação devem ser controlados. Como potência em expansão, forte e petulante a China não deve admitir que seu grande território seja ameaçado pelo desejo independentista dos tibetanos.
Seria um mau exemplo para outras regiões que cultivam o mesmo desejo de separação.

Não podemos esquecer as lições da descolonização da África e da Ásia, que só foram possíveis quando as potências européias já estavam em decadência e, apesar disso, só aconteceram depois de muita luta.

No entanto, as pressões internacionais para que se estabeleça um diálogo entre o governo de Pequim e o Dalai Lama deram resultado e os chineses abriram uma possibilidade de conversação.

O navio e a eleição
Um navio chinês com armamento destinado ao Zimbábue, país onde a situação política está indefinida depois das últimas eleições, foi impedido de atracar em portos africanos. O episódio praticamente ignorado pela mídia ocidental, é mais uma demonstração de que a China cada vez mais deve responder à pressão pública e de outras nações.

Até mesmo Angola, um dos maiores parceiros chineses na África negou a entrada do navio em seus portos e assim mais uma lição é aprendida. A China deve adotar a política das ex-potências européias e dos Estados Unidos, fazer o serviço sujo discretamente para não deixar futuros e eventuais parceiros em situação vexatória. Para exercer seu poder com plenitude há de ser discreto e dançar conforme a música dos novos tempos.

Por Sara Manera
Foto: http://images.boardgamegeek.com/images/pic63275_md.jpg

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