segunda-feira, 19 de maio de 2008

Xenofobia faz imigrantes deixarem casas na África do Sul


Milhares de estrangeiros que vivem na África do Sul procuraram refúgio em delegacias de polícia e igrejas em meio a uma onda de ataques contra comunidades de imigrantes na cidade de Johanesburgo e arredores.
Segundo a polícia, pelo menos 20 pessoas morreram desde que a violência começou, há uma semana.


De acordo com a ONG Médicos Sem Fronteiras, cerca de seis mil pessoas deixaram suas casas temendo ataques na região de Johanesburgo.
Dois mil procuraram refúgio em uma delegacia de polícia no centro da cidade.
Segundo relatos, houve mais ataques nesta segunda-feira, com barracos em assentamentos de imigrantes sendo incendiados.

O correspondente da BBC na África do Sul, Peter Biles, disse que a Cruz Vermelha sul-africana lançou um apelo por US$ 130 mil em doações para ajuda de emergência aos afetados pela violência.
Segundo o correspondente, a entidade disse estar preocupada com a possibilidade de que os ataques xenófobos se alastrem por outras áreas.


Sem controle
Policiais usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha numa tentativa de impedir que gangues de jovens armados atacassem estrangeiros e destruíssem suas propriedades.


Algumas das vítimas foram queimadas e outras espancadas até a morte. Durante a noite de sexta-feira, mais de 50 pessoas foram levadas para hospitais com ferimentos de bala e faca.
Uma igreja onde cerca de mil imigrantes do Zimbábue procuravam refúgio foi atacada.
"Nós consideramos que a situação está tão grave que a polícia não tem mais controle sobre o que está acontecendo", disse o bispo da igreja atacada, Paul Veryn.


Muitos estrangeiros se dirigiram a delegacias de polícia, levando todos os pertences que podiam carregar, em busca de proteção.
Uma mulher oriunda do Zimbábue disse à BBC que preferia voltar para seu país a perder seus dois filhos para as gangues.


Problemas sociais
A onda de violência começou há cerca de uma semana no distrito de Alexandra. Imigrantes vindos de países vizinhos foram cercados por homens levando armas e barras de ferro e gritando "expulsem os estrangeiros".


Pessoas do Zimbábue, Moçambique e Malauí fugiram para bairros próximos.
Casas foram queimadas e lojas saqueadas, e a violência se espalhou para outras áreas da cidade.
Desde o fim do apartheid, o sistema de segregação racial que vigorava na África do Sul, milhões de imigrantes se dirigiram ao país em busca de trabalho e proteção.


Mas eles acabaram sendo considerados por muitos como responsáveis por alguns dos problemas sociais da África do Sul, como a alta taxa de desemprego, a falta de moradia e um dos níveis de criminalidade mais altos do mundo.


O presidente sul-africano Thabo Mbeki disse que vai organizar um painel de especialistas para investigar as causas da violência, enquanto o líder do partido governista, Jacob Zuma, condenou os ataques.
"Não podemos permitir que a África do Sul fique conhecida por xenofobia", disse ele.


BBC Brasil

19 de maio, 2008 - 11h49 GMT (08h49 Brasília)

domingo, 11 de maio de 2008

Sudão suspende relações com o Chade


O Sudão suspendeu suas relações diplomáticas com o Chade, acusando o país vizinho de ajudar rebeldes da região de Darfur a lançar um ataque à capital sudanesa, Cartum.

Tanto o Chade como os rebeldes do Movimento da Justiça e Igualdade (JEM, na sigla em inglês) negam ter trabalhado juntos para atacar o subúrbio de Omdurman, que teria sido tomado pelos rebeldes.

O governo sudanês diz que o avanço dos rebeldes, o mais próximo que eles já chegaram a Cartum, foi contido.
Um toque de recolher imposto durante a noite em Cartum foi suspenso, mas a imposição continua vigorando em Omdurman.


Retaliação
O presidente sudanês, Omar al-Bashir, anunciou no canal de televisão estatal que seu país está cortando as relações diplomáticas com o Chade.
"Essas forças (por trás do ataque a Omdurman) são basicamente forças chadianas apoiadas e preparadas pelo Chade e elas saíram do Chade sob a liderança de Khalil Ibrahim (líder rebelde)", afirmou Al-Bashir.


Ele acrescentou que seu país se reserva o direito de retaliar o Chade.
O Sudão ofereceu uma recompensa de US$ 125 mil (o equivalente a cerca de R$ 212 mil) pela captura de Ibrahim e informações que levem à detenção dele, segundo informações da televisão sudanesa.


O líder do JEM, Eltahir Adam Elfaki, no entanto, disse que o grupo agiu sozinho.
"O JEM é independente. É uma força que se construiu sozinha do equipamento do governo do Sudão depois das nossas atividades contra o governo do Sudão", disse ele à BBC, da Líbia.
"Nós os derrotamos em tantas operações. E nós somos mais do que auto-suficientes com equipamento do que se tivéssemos ajuda do Chade. O Chade não tem nada a ver com isso. É uma operação unicamente do JEM."


'Aventura'
O governo do Chade também negou qualquer tipo de envolvimento no ataque.
"O governo chadiano não tem nenhuma ligação com esta aventura", afirmou o ministro da Informação do Chade, Muhammad Hissein, à BBC.


"Além disso, nós condenamos esta aventura e pedimos que todos os grupos de oposição do Sudão participem do tratado de paz de Abuja. Nós estamos surpresos com esta decisão do governo sudanês. Acho que é a primeira vez que rebeldes do Sudão chegam à capital. O governo sudanês perdeu seu auto-controle."


O ministro disse que o Chade não respondeu à suspensão de relações adotada pelo Sudão.
"Não esperávamos que o Sudão cortasse relações então não tomamos nenhuma decisão em resposta à decisão sudanesa agora."


O Sudão disse ter derrotado o JEM, mas continua procurando rebeldes que escaparam. Eles dizem que não querem que civis sejam atingidos nos tiroteios durante as operações de busca por insurgentes.


No sábado, rebeldes do JEM afirmaram ter assumido o controle da base da força aérea Wadi Saidna, que fica a 16 quilômetros ao norte de Cartum, o subúrbio de Omdurman, nas proximidades do rio Nilo, e de ter entrado na capital.


A situação em Cartum é de apreensão e existem relatos de que confrontos continuam no oeste da cidade, segundo a correspondente da BBC na cidade, Amber Henshaw.
As escolas na capital estão fechadas e os moradores foram alertados para não sair de suas casas até a segurança ser restaurada.


Moradores em Omdurman disseram que houve alguns confrontos na manhã deste domingo.
Uma testemunha disse que as pessoas estavam muito assustadas, o ambiente muito tenso e que eles estavam se sentindo muito desprotegidos. Ela disse que existem temores de que os rebeldes ataquem suas casas em busca de refúgio e esconderijo.


O JEM luta contra o governo há cinco anos, acusando-o de negligenciar a população de Darfur, que não tem origem árabe. Cerca de 200 mil já morreram em Darfur.
Os confrontos deste fim-de-semana ocorrem após dois dias de choques entre rebeldes e soldados na província de Kordofan do Norte, vizinha de Cartum.


BBC Brasil - 11/05/08

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O império não é de graça


Como potência mundial a China deve se adaptar as pressões da opinião pública internacional. Para um líder o diálogo e a imagem são valiosos

A China como potência parece que ainda não entendeu quais as suas novas atribuições. Exercer um papel de liderança internacional não são só flores, além do poderio econômico e político um líder deve enfrentar o peso da sua própria importância.

As relações entre China e países africanos, destacadamente o Sudão, serão motivos de protestos. Pela situação privilegiada que a China tem junto ao governo sudanês, pois é um dos maiores compradores de petróleo do país, está sendo pressionada para que intervenha na situação catastrófica da região de Darfur. Apesar das pressões o país se esquiva de pressionar Cartoun para que a limpeza étnica pare. Será mais difícil a China ter um papel respeitável na ordem mundial se continuar agindo assim.

Como líder o país deve manter uma imagem coerente com o seu novo lugar na política internacional. Suas ações são seguidas, noticiadas e vigiadas cada vez mais de perto por uma crescente opinião pública. A cobertura do país pela mídia ganha mais destaque e importância e as conseqüências da sua política começam a ser melhor entendidas pelo cidadão comum.

O dragão, a dor e a delícia de ser o que é
As olimpíadas de Pequim dão visibilidade à potência chinesa, sua grandeza e capacidade. Um dos efeitos colaterais é que o país deve aprender a lidar com a noção de democracia, respeito aos direitos humanos e permitir à imprensa mundial acesso livre (na medida do conveniente) aos atletas, à população e a regiões. Hoje, para ser uma potência não basta massacrar estudantes, calar jornalistas e omitir informação.

Protestos como os vistos na Inglaterra, França e Índia na passagem da chama olímpica vão ser mais freqüentes, porém, a política em relação ao Tibet vai continuar. A independência da região não vai acontecer e os grupos a favor da separação devem ser controlados. Como potência em expansão, forte e petulante a China não deve admitir que seu grande território seja ameaçado pelo desejo independentista dos tibetanos.
Seria um mau exemplo para outras regiões que cultivam o mesmo desejo de separação.

Não podemos esquecer as lições da descolonização da África e da Ásia, que só foram possíveis quando as potências européias já estavam em decadência e, apesar disso, só aconteceram depois de muita luta.

No entanto, as pressões internacionais para que se estabeleça um diálogo entre o governo de Pequim e o Dalai Lama deram resultado e os chineses abriram uma possibilidade de conversação.

O navio e a eleição
Um navio chinês com armamento destinado ao Zimbábue, país onde a situação política está indefinida depois das últimas eleições, foi impedido de atracar em portos africanos. O episódio praticamente ignorado pela mídia ocidental, é mais uma demonstração de que a China cada vez mais deve responder à pressão pública e de outras nações.

Até mesmo Angola, um dos maiores parceiros chineses na África negou a entrada do navio em seus portos e assim mais uma lição é aprendida. A China deve adotar a política das ex-potências européias e dos Estados Unidos, fazer o serviço sujo discretamente para não deixar futuros e eventuais parceiros em situação vexatória. Para exercer seu poder com plenitude há de ser discreto e dançar conforme a música dos novos tempos.

Por Sara Manera
Foto: http://images.boardgamegeek.com/images/pic63275_md.jpg

domingo, 4 de maio de 2008

Navio chinês carregado de armas não descarregou em Moçambique

O presidente de Moçambique, Armando Guebuza, afirma que o país não recebeu qualquer pedido no sentido de permitir que o navio chinês com armamento destinado ao Zimbabué use um dos seus portos para fazer chegar a sua controversa carga ao destino.

O Chefe de Estado Moçambicano contudo não indica qual seria a posição do seu governo.
Alguma da imprensa local havia avançado que o navio já se encontraría alegadamente em águas moçambicanas.

As declarações de Armando Guebuza seguem-se a desmentidos aqui em Maputo com o mesmo teor do Ministério da Defesa moçambicano.

Na sua edição desta terça-feira, a publicação independente moçambicana Mediafax, indicava que o navio estaria somente à espera da autorização necessária para atracar.
Falando a propósito, o chefe de Estado Moçambicano, Armando Guebuza afirmou que “ainda não recebemos nenhum pedido para o navio a que se refere vir a Moçambique. Se recebermos um pedido vamos ver o que ele contém e vamos ter que responder mas temos que ter uma coisa concreta e não somente no abstracto”.

As afirmações de Armando Guebuza acontecem quando continua a ecoar por toda a região o apelo a um boicote ao navio chinês lançado por Levy Mwanawasa, o presidente zambiano actualmente à frente da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, SADC.

Diplomacia silenciosa
Mwanawasa é, lembre-se, apontado pelo líder da oposição zimbabweana Morgan Tsavangirai como a pessoa ideal para suceder ao chefe de estado sul africano Thabo Mbeki na mediação da crise no Zimbabwe.

Mbeki é criticado pela aparente ineficácia da sua chamada diplomacia silenciosa.
Contudo o presidente moçambicano, Armando Guebuza, assegura que Thabo Mbeki continua merecer a confiança da SADC como ficou demonstrado nos recentes encontros da organzição.
“Em sete dias, entre a reunião de Lusaka e a das Maurícias vimos que dava para reafirmar o nosso apoio e reiterar que o presidente Mbeki tem de continuar a trabalhar."

Segundo Guebuza "a SADC vai participar mais activamente nos processos eleitorais em curso, neste caso a contagem de votos e se o resultado indicar que haverá uma segunda volta, a SADC estará desde o primeiro ao último momento como observador.”
Portos angolanos

Entretanto, em Angola o Conselho de Coordenação dos Direitos Humanos (CCDH) tomou posição relativamente ao barco chinês carregado de armamento, na sequência de alegações de que o mesmo estaria a dirigir-se para um dos portos angolanos.

O secretário-executivo do CCDH, Alberto Tunga, disse que a sua organização entregou uma carta às autoridades angolanas, expondo as suas preocupações relativamente a este caso.

Segundo Alberto Tunga, num momento em que Angola se prepara para realziar eleições a prensença destas armas no país, poderá pôr em causa a credibilidade do processo.
Entretanto, a imprensa angolana citou representantes governamentais angolanas dizendo que nãos eria autorizada a entrada do barco nos portos angolanos.

Uma informação, citando uma fonte diplomática chinesa, indicava que a China estaria na disposição de fazer regressar o barco à procedência.

BBC para África
22 Abril, 2008 - Publicado em 18:48 GMT

Navio chinês impedido de descarregar armas em Angola

Um tribunal angolano emitiu uma providência cautelar para impedir que o navio chinês que transportava armas para o Zimbabué e seja impedido de descarregar o material bélico. A providência cautelar refere ainda que o navio está autorizado a aportar na segunda-feira e a sua carga vai ser fiscalizada.


Em declarações à BBC Para África, o Presidente do Conselho de Coordenação dos Direitos Humanos, David Mendes, confirmou que o navio nunca tinha atracado no porto de Luanda.
“O navio não atracou e estamos a coordenara as operações para proceder às fiscalizações quando isso acontecer”.

“Há vários navios chineses ao largo da costa angolana e havia confusão sobre qual seria o que tinha material bélico para o Zimbabué”, referiu.
O governo de Luanda autorizou a entrada da embarcação no porto da capital, mas salientou que não estava autorizado a descarregar material militar para o Zimbabué.
O navio An Yue Jiang dirigiu-se para Luanda depois de ter sido impedido de atracar na África do Sul e em Moçambique.



BBC para África

02 Maio, 2008 - Publicado em 18:29 GMT