quarta-feira, 9 de maio de 2012

9 Fennel Crescent

Da minha janela vejo um pedaço da rua. Chove e o asfalto esta molhado. Gotinhas na janela. Vejo casinhas iguais de um bairro popular. Os corvos comem qualquer coisa na grama e gaivotas perdidas aparacem occasionalmente no ceu. Em Broadfield estrangeiros nao faltam, sobram. Mulheres de niqab empurrando carrinhos de bebe, adolescentes inglesas com os filhos pequenos, homens com barbas longas, portugueses, negros francofonos, pasquitaneses, alguns ingleses. A chuva parou e os carros passam na rua. Da minha janela, ontem, vi um menino bem branquinho sem camisa com um riso contagiante. Infancia. Lembro dos olhos brilhantes e vivos de uma meninha no onibus. Uma alegria de se ver, uma esperança a mais. Voltou a chover, tem um homem correndo e a rua ficou vazia novamente. Nos mercados do bairro um botequim portugues que vive com a televisao ligada na RTP e os homens fumam na porta. Do lado, o mercadinho mulçumano: verduras, carne halal, um coroa engraçadinho no caixa, roupas diferentes. No supermercado produtos de todos os cantos, do presunto polones ao pilau apimentado. Bairro de imigrantes, de trabalhadores, de trambiqueiros, de oportunistas. De corajosos, no final das contas.

Depois de anos de silencio, recomeço a partilhar o que vi e o que vejo. Depois de dois anos de reclusao, fechada nos meus proprios sentimentos, duvidas e alegrias a coragem para dividir voltou.