terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Os muros da vergonha

Por Sara Manera
A imigração ilegal nos coloca em uma encruzilhada onde dois caminhos são decisivos para a paz no século XXI

A queda do muro de Berlim em 1989, simbolizou o fim da guerra fria, a re-união de dois países e um voto de confiança em um futuro mais unido. Em 2006, outros muros tomam conta do noticiário, mas desta vez com o intuito claro de separar, distinguir, desunir.

Israel continua a construir o muro que corta os territórios palestinos na Cisjordânia, com o intuito de preservar o país de mais ataques terroristas. Os EUA, tentam barrar a onda de imigrantes latinos que insistem em invadir o país, apesar de cidadãos americanos patrulharem a fronteira com o México.

Depois do colapso da União Soviética e do triunfo dos EUA no cenário mundial, os muros pareciam ter perdido o sentido. Os novos muros surgem como sintomas das novas regras internacionais, mas continuam servindo para separar, controlar e subjugar grupos ou populações inteiras.

Cada vez mais fica clara a opção dos países ricos em deter os imigrantes africanos, latinos, asiáticos e de países islâmicos, que vem a procura de emprego, dignidade e melhores condições de vida. Assim como na Europa, a questão da imigração nos Estados Unidos é tratada agora como questão de segurança nacional. Os imigrantes ilegais que invadem as Ilhas Canárias, que vem do leste europeu e que pulam os muros vigiados dos americanos na maioria são jovens saudáveis que não se resignaram à pobreza de seus países e que vêem na imigração ilegal a única chance de viver decentemente.

Estes muros se transformam em encruzilhadas, principalmente para as populações diretamente envolvidas. É possível seguir por dois caminhos; aquele que continua a construir os muros e assim opta pela separação entre nós e os outros e fatalmente leva a violência ou aquele caminho que prefere derrubar o muro, pensar no que pode ser feito para nos proteger sem atacar o outro.
Este é mais árduo e difícil, pois exige paciência, diplomacia e visão a longo prazo. A imigração necessariamente passa por uma divisão mais igualitária de renda, comércio justo, políticas de desenvolvimento, responsabilidade ambiental e social. As migrações tomam rumos dramáticos, mas nós ainda podemos escolher quais devem ser seguidos.

Guardiões da fronteira

A lei sancionada pelo presidente George W. Bush em Outubro que prevê a construção de um muro de cerca de mil km na fronteira entre os Estados Unidos e o México, para muitos foi eleitoreira. De olho nos votos de americanos que defendem leis mais duras contra a imigração ilegal, os “guardiões da fronteira”, voluntários que patrulham a divisa entre os dois países, também querem eleger representantes para a Câmara e o Senado.

Nos EUA onde cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais reforçam a economia do país a aprovação da lei para construção do muro deixa mexicanos e americanos em lados opostos. O muro só cobrirá aproximadamente um terço da fronteira e pode causar um número maior de mortes durante a travessia, pois as rotas ficariam mais difíceis e perigosas. Leis para a punição de imigrantes ilegais e negação de alguns benefícios, como assistência média e educação polemizam ainda mais a questão da imigração. A barreira deverá custar cerca de US$ 6 bilhões, mas ainda não há verbas nem data prevista para ser implantada.

Com a vitória do partido democrata nas eleições espera-se que a discussão seja bilateral, mais ampla e mais justa para todos.

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