domingo, 3 de fevereiro de 2008

Petróleo e diamantes financiaram guerra em Angola

Disputa de campos de diamantes e áreas petrolíferas dificultou acordos de paz


Depois do fim da guerra fria, no início dos anos de 1990, os oponentes, MPLA e UNITA, perderam seus financiadores internacionais (URSS e EUA). É assim que o petróleo e os diamantes, principais recursos do país, passam a financiar os últimos 12 anos de guerra civil. O governo usou as divisas do petróleo e a UNITA as divisas advindas da venda ilegal de diamantes, retirados das suas áreas de domínio, principalmente no nordeste do país.

Em 1991, foi assinado o Acordo de Bicesse, em Portugal, que previa a realização de eleições livres e democráticas, que aconteceram em 1992, o então presidente José Eduardo dos Santos estava na frente com 49,57% dos votos o que significava a ida para o segundo turno. No entanto, receoso o líder da UNITA, Jonas Savimbi, alegou fraude nas eleições e se retirou da disputa reiniciando a guerra.

“... (a UNITA) refugiou-se no interior do país, onde deu curso a actos de violência contra as populações, à pilhagem de bens e à destruição de infra-estruturas, a um nível nunca antes atingido” afirma José Mena Abrantes no livro Angola em Paz (Maianga, 2005).

Protocolo de Lusaka - Em 1994, foi assinado o Protocolo de Lusaka (Zâmbia), em que a UNITA prometia entregar os campos de diamantes sob sua tutela e desarmar a guerrilha, enquanto o governo daria a vice-presidência ao seu líder. No entanto o acordo não foi cumprido reiniciando a guerra. Mais uma vez Jonas Savimbi não cumpriu as resoluções previstas nos acordos de paz realizados. Com as violações sucessivas dos acordos de paz pela UNITA e a clara intenção em promover o conflito armado o grupo foi perdendo apoio (inclusive de seus próprios membros que começaram a desertar) e aumentando seu isolamento internacional.

O governo de Angola tinha como política a reintegração de ex-militares da guerrilha e acenou com esta possibilidade também ao seu líder.


“Muitos foram os que acederam a este apelo e abandonaram as armas,
reintegrando-se harmoniosamente na vida nacional. Jonas Savimbi e um grupo de
radicais apoiantes das suas teses belicistas preferiram continuar um desesperado
combate por uma causa já sem qualquer sentido, enveredando por crescentes
práticas terroristas contra as populações civis e pela destruição de tudo o que
encontravam pela frente.” José Mena Abrantes (Maianga, 2005).

A guerra civil angolana durou 27 anos, terminando em 2002, com a morte em combate do líder da UNITA. Atualmente a UNITA está integrada plenamente à vida política do país e é um dos principais partidos políticos de Angola.

Eleições legislativas e presidenciais estão previstas para 2008 e 2009, mas ainda não foram marcadas pelo presidente da republica José Eduardo dos Santos. Segundo presidente de Angola, substituiu Agostinho Neto, em 1977 e está no governo há 25 anos.


Por Sara Manera

Ecos do passado

Ocupação européia e descolonização afetam ainda hoje países africanos


Desde o século XVI os europeus estão na África, sobretudo no litoral de onde comercializavam escravos para as Américas e Europa. No século XIX a ocupação do território africano se intensificou com a conquista do interior do continente. Esta ocupação deveu-se à necessidade das potências coloniais de obtenção de matérias primas (ouro, marfim, minérios, etc) e desenvolvimento de mercados consumidores para seus produtos industrializados.

A disputa pela África culminou com a Conferência de Berlim em 1884, em que as potências coloniais dividiram o continente entre si de maneira geométrica não respeitando as características e problemáticas de cada região.

A descolonização dos países africanos teve seu auge nas décadas de 60 e 70. Com a conquista da independência muitos países, principalmente da chamada África Negra ou Subsaariana entraram em guerra civil. Na briga pelo poder econômico e político existia o agravante de que em um mesmo país existiam diferentes grupos étnicos, com divisões religiosas e lingüísticas que tornaram ainda mais complexa e difícil a convivência pacífica entre eles. Em Angola não foi diferente.

Por Sara Manera